Cultura do estupro

Cultura do Estupro

Esta semana (23 a 29/05/2016) foi marcada pela divulgação de um caso terrível de estupro (30 homens estupraram uma menor de 16 anos). Além do absurdo da conduta desses 30 sociopatas, fico alarmada com as campanhas sobre que devemos ser contra a cultura do estupro.

Não acredito que exista em nosso país uma cultura a favor do estupro. Não vejo sentido em postagens nas mídias sociais vociferando sobre mães e pais que educam seus filhos para praticarem o estupro. Nada é impossível. Talvez se encontre algumas mães e pais que instiguem a um comportamento tão absurdo, mas também são pessoas doentes e perversas, e estas são poucas estatisticamente falando, não dá para falar em cultura.

Também vejo postagens que alegam que os homens temem serem estuprados na cadeia, e as mulheres temem diariamente em suas vidas. Sim, isso é uma verdade parcial, pois muitos homens são estuprados fora do ambiente penitenciário. São estuprados na rua, nos pontos de ônibus, em encontros, em grupos de estudo ou de práticas esportivas, etc. Fala-se e noticiam-se tanto sobre padres, pastores, treinadores que abusaram de meninos e jovens do sexo masculino. Mas são raros os homens que denunciam, falta-lhes coragem, pois se sentem envergonhados, atitude que as mulheres tinham, e algumas ainda têm, sobre o fato. Não só porque, como alguns “pseudoespecialistas” alegam, serão considerados responsáveis pelo próprio estupro, mas por ser um trauma de caráter intimo que ferirá a alma e consequentemente a existência dessa vítima.

Mas nós mulheres já contamos com Delegacias que nos atendem de maneira a minimizar os constrangimentos.

Na minha prática clínica atendi mulheres que sofreram estupro: umas poucas sabiam no que estavam se metendo, havia uma participação aquiescente – até determinado ponto ou totalmente. A maioria foi pega de surpresa, e normalmente por pessoas próximas, de sua relação. Atendi apenas um homem que foi estuprado e confesso que ouvir o seu relato não foi nada fácil. Perceber toda a fragilidade e dor estampada numa figura masculina me confessando o ocorrido, não é fato para ser tratado como banal ou merecido. Não que o relato de uma mulher o seja, mas ai sim entra a nossa cultura, estamos mais propensos a vê-la como uma frágil vitima. E a meu ver toda e qualquer vítima de estupro estará frágil – antes, durante e depois.

No caso veiculado pela mídia observam-se características de vingança pelo namorado traficante traído. Fica bem claro na frase que ele usou para destruí-la publicamente (a comedora de ratos da comunidade). É o chamado “tribunal do crime”.

Infelizmente, o “tribunal do crime” pune de maneira terrível todo e qualquer crime contra uma pessoa ou grupo dos quais são simpatizantes, o que é muito diferente da nossa chamada Justiça, que é branda em suas penas mesmo nos chamados crimes hediondos.

A justiça para os 30 estupradores, se houver, será pelos próprios comandos e “tribunais do crime”, que além de não admitir atos de estupro, não admitem condutas criminosas destoantes que atraiam a atenção da polícia para sua comunidade.

Mesmo numa cultura machista (julgar a mulher como um ser inferior) ou numa cultura misógina (que despreza as mulheres) não há cultos em favor do estupro.

Estupro é um crime bestial, hediondo seja ele praticado contra as mulheres, os homens e de quaisquer idades. É um crime praticado por pessoas – sim, homens e mulheres – com patologias (sociopatias ou psicopatias) que até o momento não apresentam bom prognóstico mesmo com tratamento. A maioria deles não foi educada ou aliciada para praticar ato tão vil.

Temos que lutar para que este tipo de crime, seja o estupro individual ou coletivo (raro), seja regiamente punido. Menos importante é atacar pais e mães ou grupos, mais importante é criarem-se leis que realmente punam de maneira exemplar, pois só assim poderemos diminuir a incidência desse tipo de violência!

Sugiro alguns filmes que refletem os dramas, traumas e consequências desse tipo de violência:

- Sobre Meninos e Lobos.

- O Livro das Revelações – bem ruim, mas fala sobre a história de um homem sequestrado e violentado por três mulheres.

- Marcas do Silêncio.

- Príncipe das Marés.

- Meninos Não Choram.

- Thelma e Louise.

- Millennium – os homens que não amavam as mulheres.

- Acusados.

- Os Donos do Amanhã.