Apego - uma patologia

Apego - uma patologia

Muito se fala em transformação interior, em mudanças, e, parece algo muito fácil de ser realizado. Mas não é não!

A transformação, seja interna ou externa à pessoa requer uma emoção forte e motivadora – desejo: estar cansado da “mesmice” e partir para a ação. Mas para que isto possa ocorrer, primeiramente, deve-se vencer uma das maiores patologias do ser humano: o apego.

O apego está presente no dia-a-dia, interna e externamente. Pode-se estar apegado a qualquer coisa, seja ela boa ou ruim, saudáveis ou doentias, pessoas, objetos, situações, sentimentos ou doenças.

Vamos lá! Primeiramente, olhe à sua volta. Observe as pessoas que fazem parte da sua vida. Tem aquele seu vizinho que tira todo fragmento de pó que vê sobre o carro. Tem aquela vizinha que só resmunga de tudo e de todos. Tem o que só fala de sua doença. Tem o que recolhe tudo que vê na rua, pois acha que um dia irá precisar ou que servirá para alguma coisa. Tem aqueles que guardam revistas velhas, livros, roupas, latinhas, etc., etc., etc. Tem aquela que ao adentrarmos a casa não se tem nem lugar para sentar. E por aí a fora.

Agora, olhe para você! Preste bem a atenção na sua vida e responda ao quê você se apega?

Saiba que o apego é um sentimento doloroso além de servir como obstáculo às mudanças, às transformações. Mantém-se o que é velho, inútil, estragado, empoeirado, que não serve mais e assim evitamos o novo, o bonito, o funcional. Tenho amigas que guardam as coisas novas para ocasiões especiais – que na verdade nunca chegam. Isto porque especial sou eu, é você; é cada um de nós para nós mesmos e não para os outros. Enquanto não perceberem isto, ficarão à espera dos tais acontecimentos especiais.

Armários, gavetas, garagens, quartinhos, cantinhos cheios de entulho e tralha. Cheios de coisas esquecidas.....mas importantes você me diz! Importantes?!? É assim que se trata o que é importante???

Então apego se dá para aquelas coisas que dizemos serem importantes e das quais não queremos nos desfazer. Seja um relacionamento que não nos faz bem, uma lembrança dolorosa, uma roupa que não nos serve mais e/ou está fora de moda, uma dor ou doença. Sim, nos apegamos a uma doença sim, da mesma maneira que nos apegamos a um problema.

Vamos pensar numa situação concreta e simples, que podemos observar no nosso cotidiano para vermos como funciona o apego.

Aquela sua vizinha que junta os copos de requeijão para usá-los como copos e assim deixa o jogo de copos que ganhou no casamento para as ocasiões especiais, para visitas especiais. Ela usou talvez, uma única vez quando fez a festa de batizado da primeira filha ou no primeiro aniversário da criança. Depois disso nunca mais. Hoje a sua filha já lhe deu um netinho. Mas ela insiste em dizer que é para ocasiões especiais, o que na verdade é uma mentira. Ela os guarda para que não quebrem. Ela se apegou a eles -- foram dados por uma amiga querida (que até já faleceu). Então os copos não servem como copos. O apego modifica a função do objeto, pessoa, situação, etc. Os copos dessa nossa história passam a ser objetos que ficarão intocados dentro de um armário. Sem vida! Sim, tudo a que nos apegamos não tem mais vida dentro do nosso viver, pois não são usados como deveriam. Apenas ocupam um espaço que deveria ser ocupado com coisas utilizáveis.

Ah, você me diz que o apego a uma pessoa é diferente. Você acha mesmo? Então vamos pensar. Você tem um tremendo apego ao seu marido: não vive sem ele e vive para ele. Ele não pode sair sozinho ou sair com amigos. Você assiste ao futebol com ele e ele as novelas com você. Tem que atender ao telefone todas as vezes que você liga mesmo que esteja sem bateria, ou longe do aparelho, ou simplesmente não queira atender. Sei, sei, é um horror imaginar que ele não queira falar com você naquele momento. Tem que lhe dizer tudo o que vai fazer ou fez. O seu marido deixou de ser seu companheiro, para ser seu tormento (apego) e você o dele (a pegajosa, a controladora). Então lá se foi o belo casamento. Você não vive e não o deixa viver. Você não vive para você mesma, vive para manter-se grudada nele.

Outro apego muito comum é o apego à pessoa que já se foi da sua vida. Não por morte, não! Aquele relacionamento que acabou, mas para você não acabou mesmo! Você se martiriza com o porquê acabou. Ele me amava (mas deixou de amar) ou então nunca me amou (mas você quer alguém que não te ama ao seu lado). Então você conclui que você o ama e não pode viver sem ele, e, que ele vai voltar para você (mesmo que não te ame, pois não é isto que importa). O importante é tê-lo! Então, você passa todos os dias, 24 horas por dia pensando nele. Seu trabalho fica comprometido (mas todos vão entender o que é uma dor de amor – entendem não), mas vai voltar ao normal quando ele voltar. Quando ele voltar você será feliz novamente, mas e até lá???? Sua vida foi para o lixo! Bom, mas você estará um lixo mesmo: abatida, descuidada, mais magra ou mais gorda pelo “sofrimento” – seus tormentos serão visíveis provocando pena ou rejeição dos demais. E assim você pode permanecer no limbo por meses, anos. A função do apego é evitar ter um relacionamento, já que se vive para o não relacionamento. Esta é a mudança de função ao apegar-se a qualquer ex.

Portanto, apego é manter-se preso a alguma coisa ou alguém, inviabilizando o viver de maneira natural, com suas mudanças, transformações, nuances.

Deixe ir tudo o que não lhe serve mais. Use as coisas que guarda, aproveite-as enquanto pode. Viva os afetos sabendo que um dia eles podem ser transformados em desafetos ou perderem todo o brilho e calor. Não é por que você não muda que o mundo a sua volta não vai mudar. Pelo contrário, vai mudar e muito e você ficará para trás, vivendo num passado que só existe na sua imaginação.

A única função do apego: uma desculpa para deixar você na mesmice, no limbo, no não viver!

22/03/2009