Análise do Filme "Patch Adams - O Amor é Contagioso" através da perspectiva junguiana

Análise do Filme "Patch Adams - O Amor é Contagioso" através da perspectiva Junguiana

O filme:

O filme conta a história real de um homem chamado Hunter Adams. Em 1969, quando contava com aproximadamente 40 anos de idade, encontra-se em estado de intensa depressão e, por conta própria, se interna num hospital psiquiátrico.

Durante as sessões de terapia, com um profissional distante e impessoal, relata que seu pai faleceu quando ele contava com 9 anos de idade. Seu pai estava no exército e lhe disse duas semanas antes de morrer que havia perdido sua alma na guerra contra a Coréia.

Em seguida, se remete ao momento atual, relatando que mudou de casa sete vezes e teve vários empregos neste último ano. "Mas nenhum me interessou. Não me encaixo."

Numa sessão de grupo, ironiza um paciente catatônico.

Seu contato com Arthur Mendelson, um velho que chama de idiota todos que dizem ver apenas quatro dedos quando ele lhes mostra os quatro dedos, revela uma fala interessante quando Adams vai procurá-lo para saber qual a resposta certa: "Vê o que ninguém mais vê. Vê o que todos preferem não ver por medo, comodismo ou preguiça. Na verdade, está à caminho. Se só visse em mim um velho louco e amargo nunca teria vindo."

Arthur lhe dá o apelido de "patch" em razão de ele ter consertado seu copo.

Entra no mundo alucinatório de seu companheiro de quarto (Rudy) e consegue fazê-lo vencer padrões de conduta fóbica.

Então, procura pelo terapeuta e diz que vai sair do hospital pois quer ajudar os outros, entrando em contato com eles e não sendo como o terapeuta que nem sequer os escuta.

Sai do consultório dizendo que seu nome passa a ser Patch Adams.

Dois anos depois, está cursando medicina. Na aula inaugural, o reitor Walcott diz: "... vamos desumanizá-los, vamos torná-los médicos." E todos aplaudem, menos Patch.

Patch tenta se aproximar de uma colega de sala (Carin) e ela o repele de maneira contundente. Outro colega que assiste à cena, Truman, solidariza-se e passam a viver momentos de "aproveitamento" do acaso, no qual testa suas teorias de melhoria de qualidade de vida.

Patch é um homem para o qual não existe limite, convenções sociais, restrições. Para ele, tudo é permitido. Ele é rebelde, com dificuldade para se relacionar de maneira socialmente adequada. Por isso, não se conforma em atender clientes apenas no 3º ano do curso. Então, passa a frequentar o hospital ligado à Faculdade no intuito de agradar, brincar e divertir os pacientes. É irreverente e contagia a todos os pacientes, seus familiares e enfermeiras, com sua alegria, criatividade e despreocupação.

Seu rendimento acadêmico é excelente. É um idealista, e tem por premissa que "o médico deve melhorar a qualidade de vida do paciente e não apenas adiar a morte."

Após muitos contratempos, enfim chega o 3º ano, e Patch, além de atender os clientes do hospital acaba por montar seu próprio ambulatório com atendimento gratuito e nos seus moldes, ou seja, com um atendimento mas pessoal e humanizado.

Carin passou a confiar em Patch e a ajudá-lo em seu projeto. Ela, que sempre detestou os homens, via nele alguém em que podia confiar. Ela lhe disse que desde criança invejava as lagartas pois sabia que podiam se transformar e serem livres, voando para bem longe. Mas Carin é assassinada por um paciente e Patch se sente culpado e pensa em abandonar tudo.

Seu colega de quarto, Mitch Roman, que por inveja havia se mantido à parte, pede por sua ajuda para atender uma paciente. Mas Patch não o ajuda pois está decidido a abandonar tudo.

Volta ao local onde levou Carin, o terreno que tencionava, um dia, comprar, para montar sua clínica, e desabafa e repudia Deus. Mas "recebe" um sinal, uma resposta para suas questões. Ele vê uma borboleta pousada em sua mala e, em seguida, ela voa e pousa em seu peito e depois alça voo.

Então ele volta ao hospital para ajudar o colega com a paciente. Mas, logo em seguida, recebe um comunicado que será expulso, sendo que uma das alegações é ser "excessivamente feliz", e esse colega o orienta em com proceder em sua própria defesa.

Na audiência é irreverente, sarcástico e irônico ao defender o seu ponto de vista. Alega que mal não é a morte mas a indiferença. Que não concorda com termos como "transferência" e "distância profissional".

Termina em sua defesa dizendo: "Queria ser médico para ajudar o próximo. Por causa disso, perdi tudo. Mas também ganhei tudo. Compartilhei das vidas de pacientes e pessoal do hospital. Rimos e choramos juntos. Quero dedicar minha vida a isso. E hoje, seja qual for sua decisão, juro por Deus que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo. Podem impedir que eu me forme. Podem me negar o título e a bata branca. Mas não podem dominar meu espírito nem evitar que eu aprenda. Não podem me impedir de estudar. Portanto, têm uma escolha. Podem me ter como um colega apaixonado ou como um intruso, mais ainda inquebrantável. Seja como for, ainda vou ser um espinho. Mas prometo, vou ser um espinho que não podem arrancar."

A audiência termina com sua vitória e ele se forma, de maneira irreverente, é claro!

Patch Adams, EUA, 1999, 115 min.

Direção de Tom Shadyac

Com: Robin Williams, Monica Potter e outros.

O Arquétipo do Puer Aeternus

Dois analistas junguianos, James Hillman e Marie-Louise von Franz, estudaram atentamente este arquétipo, que é o da Criança Divina ou da Eterna Juventude. Tem uma de suas associações com o mito grego de Dionísio, principalmente por seus epítetos - Iaco, Brômio e Zagreu.

Este arquétipo se caracteriza por não querer crescer, não assumir responsabilidades pessoais e profissionais, por buscar o lado mais prazeroso da vida. É repleto de idéias e ideais, vivendo no mundo dos sonhos e das possibilidades. Vive correndo atrás de algo que não sabe bem o que é, mas que sabe que perdeu.. Portador de uma ansiedade inquieta. Apresenta intensa dificuldade de adaptação social. No Puer encontra-se a fogueira dos ideais e paixões, o espírito e a meta; tendências autodestrutivas. Não aprecia a repetição, a paciência e a direção. O Puer tende a apresentar um complexo materno e sentir a ausência da figura paterna, por distanciamento físico ou emocional.

Para Hillman, o Puer deve se encaminhar para seu par oposto e complementar, o Arquétipo do Senex, do velho, para então, sem perder suas características positivas (criatividade, inventividade, alegria, etc.) possa realizar-se.

Correlação do arquétipo com o filme

No início do filme vimos a degradação de Adams por sua inconstância e depressão voltando ao lar com ideias suicidas. Mas ele resolveu fazer a viagem interior em busca de si mesmo. Ao internar-se num hospital psiquiátrico, desceu aos próprios infernos e dele saiu transformado.

Ao se tornar "Patch" Adams revelou-se comprometido com o Arquétipo do Senex, trazendo nova direção à sua vida, com persistência e tenacidade. O fato de não ter abandonado o Arquétipo do Puer é que lhe proporcionou a visão transformadora da medicina, até então empregada. Patch, após sua transformação interior, carregou-se de Eros e, por isso, passou a valorizar a proximidade emocional. Seu idealismo transformou-se em realidade; tornou seus sonhos em algo tangível.

Sua vontade inquebrantável estava baseada na força interior definida pelo processo de Individuação a que estava vivenciando. Tornou-se único, indivíduo (não divisível) e construiu um novo modelo de atendimento médico.

Portanto, neste caso real, pode-se verificar que a maneira que Hillman aborda o tema do Puer, que difere da de Franz, pois inclina o Puer a se encaminhar e a se integrar com os aspectos positivos do Senex, é um modo muito estruturante e positivo.

Como se pode ver, é contraproducente anular a criança interior pois cabe à ela injetar criatividade e espontaneidade na vida adulta, e com isso, trazer uma melhor qualidade de vida com a diminuição do stress pelo aumento das possibilidades de se viver com prazer.