A inveja e o ciúme sob o enfoque da Psicologia Analítica

A inveja e o ciúme sob o enfoque da Psicologia Analítica

Recebi alguns pedidos para escrever um pouco sobre a inveja e achei a ideia interessante e então vamos a ela.

Primeiramente, acho oportuno esclarecer que o ciúme nada mais é do que um dos aspectos da inveja. Segundo o dicionário do Aurélio a inveja é o desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem, e, ciúme um sinônimo de inveja, só que mais adotado em se tratando de relacionamentos afetivos. Sentimos ciúme quando acreditamos que outra pessoa está recebendo mais atenção do que nós e com isso nos vemos ameaçados, e nos acompanha a insegurança e o sentimento de posse.

Vocês já se deram conta de qual a primeira vez que se relatou sobre a inveja e suas consequências? É no livro sagrado, sim, na Bíblia. Após a criação de Adão e Eva, eles procriaram e tiveram dois filhos que conhecemos muito bem: Caim e Abel. Caim por inveja da atenção e valorização que Abel recebia dos pais acabou por assassiná-lo.

Segundo ainda as Escrituras, Lúcifer com inveja do bem-querer de Deus pelos humanos iniciou uma guerra no Céu – vale lembrar que Lúcifer era, antes de sua queda, um anjo – e ao perder foi deposto.

Por isso a inveja é considerada um dos pecados capitais e o preferido do Diabo, provavelmente por sua frequência, pela facilidade em sermos apanhados em suas teias, seja no campo pessoal, afetivo, familiar, profissional ou acadêmico.

O ser humano é um ser de comparação. Vive a se comparar com os outros, e, a fazer comparações entre pessoas, objetos, situações. Está sempre pronto a julgar e competir. Este é um dos caminhos que levam à infelicidade.

Carl Gustav Jung assinalou que cada ser humano busca ser quem é (individuação) e isto lhe assegura estrutura e realização, segurança e autoestima. Entretanto, por situações ditadas pelo meio, buscamos ser outra pessoa que não a nós mesmos; realizar o que os outros realizam; sonhar os sonhos dos outros, zombando dos nossos próprios anseios internos e profundos.

Quem disse que a felicidade mora ao lado, mentiu!

Ela está dentro de nós mesmos. Assim que nos desenvolvemos e buscamos por sermos quem somos podemos sentir o que é ser feliz.

Então através das nossas imensas expectativas sejam elas em que áreas forem e das consequentes frustrações por não atingi-las, começamos a vivenciar o estado invejoso, que tanto sofrimento interno e externo traz. Interno pela insegurança, medo, inferioridade e, externo, pois cometemos muitos desatinos motivados pela inveja. Se a inveja for um aspecto dominante na nossa maneira de viver no mundo, certamente ela nos conduzirá a relacionamentos disfuncionais, marcados por afastamentos e intrigas.

Vamos olhar para a inveja mais de perto.

Ela nos chega através da instância do desejo e não da instância da necessidade. Ter desejo por alguma coisa não é o mesmo que necessitar de alguma coisa. Por exemplo: eu preciso trocar de geladeira, pois a minha é antiga, está sempre precisando de reparos o que me leva a ter gastos desnecessários. Mas minha vizinha acaba de comprar uma nova, top de linha. Se eu não comprar uma geladeira igual ou superior o que ela vai dizer? Então meu desejo de ser, na pior das hipóteses, igual a ela, de estar com o mesmo status dela me guiará para uma compra desnecessária, pois um modelo básico atenderia minhas necessidades.

A inveja nos faz sentir que somos os nossos objetos. Eu sou a geladeira, o carro, a casa, etc. que possuo, e em sendo assim, a minha satisfação comigo mesma é momentânea, pois logo aparecem novos modelos no mercado.

Então, de onde vem o meu desejo? Da minha inconsciência de mim mesma. Do vazio que não se preenche. Da minha necessidade de provar-me frente a tudo e a todos. De ser a melhor. De ser a mais querida e valorizada. E esta história vem desde Caim e Abel, ou seja, carregamos em nós a inveja arquetípica, tanto que nosso primeiro contato com a inveja vem quando nos deparamos com nossos pais em situações afetivas e corremos para separá-los; depois pode ser com nossos irmãos (se o tivermos). E daí em diante, iremos de repetição em repetição deste modelo rumo a sensação de infelicidade.

Fevereiro de 2010