A diferença entre motivação e vontade

A diferença entre motivação e vontade

Escrevo este texto para responder a um educador que me questionou sobre como motivar os alunos.

É interessante observar o quanto os processos de aprendizagem estão ligados à Psicologia. Não quero supervalorizá-la, mas se estivéssemos atentos a certos conceitos, obteríamos melhores resultados na educação - e não seríamos apenas agentes de frustração.

O desempenho humano está intimamente associado a dois fatores: motivação e vontade. Isto é, ter um motivo ou razão para fazer algo e vontade para agir. Muitas vezes, temos um bom motivo, porém, nenhuma vontade – e vice-versa.

O professor, em aulas presenciais ou de e-learning, vai se deparar com este que pode ser um entrave aos seus propósitos. A baixa motivação e a pouca vontade podem aparecer de inúmeras formas: menor rendimento do aluno, rebaixamento na atenção-concentração, pouca participação nas atividades, faltas, desistência, indisciplina, e por aí em diante.

Acredita-se que bastam notas e conceitos para motivar um aluno. Engano, embora isto possa funcionar para alguns. A motivação verdadeira à educação é aquela que vem de dentro, cabendo ao educador semear em cada aluno um bom motivo para estudar sua matéria. Dizer que estudar a língua portuguesa é essencial para a comunicação não basta, o mesmo se aplica às outras matérias.

Quem já assistiu ao programa “O Mundo de Beechman”, veiculado pela TV Cultura de São Paulo? Ele relaciona os efeitos da Física ao cotidiano, facilitando o aprendizado e a retenção dos conceitos aprendidos. É um programa muito motivador, e a ideia do autor surgiu ao ter que explicar Física à sua filha! Portanto, devemos destacar aos alunos as implicações subjacentes ao estudo de determinada matéria, o que ela pode lhe proporcionar.

Devemos, ainda, utilizar meios mais dinâmicos e atrativos para ensinar. E aqui entram os métodos de e-learning, que vieram para dar condições ao professor de atuar sobre a motivação e a vontade dos alunos sem que tenham que “quebrar tanto a cabeça” para serem criativos e instigarem a aprendizagem. Simplesmente, aliou-se o computador, que é o objeto de desejo de qualquer cidadão, a uma das atividades mais desagradáveis e obrigatórias – a escola (infelizmente, é assim que é vista). Existem jogos que facilitam o estudo e a memorização do conteúdo programático e também é possível criar uma competição entre os participantes para saber quem se sai melhor.

As aulas de informática possuem um alto índice de frequência. “Estar plugado” e “fazer link” são expressões corriqueiras entre os jovens, que tornaram os fóruns e bate-papos online parte do seu dia a dia. Então, por que o educador não pode “estar plugado” nesses novos meios, “fazendo um link” com as ideias mais recentes e com os novos meios de comunicação?

Vou ater-me a um ponto de vista que enfoca mais o educador do que o aluno, pois a cada um caberá introduzir essas reflexões no seu trabalho. Portanto, vamos lá: por que o educador resiste tanto às novas tecnologias? A resposta parece simples: ele teme tudo que é novo, acredita que vai dar trabalho, que os alunos não se interessam, etc. Desculpas, na verdade.

Vamos dar algumas razões para o professor se sentir beneficiado pelas novas metodologias: trabalho mais estruturado, com maior praticidade na execução e correção; bancos de dados que, uma vez construídos, facilitam as buscas e as alterações de conteúdo; menos questionamentos sobre as correções; e uma melhor visão do aluno (comparada aos métodos convencionais). Enfim, sabe-se que as novas metodologias trazem muitas vantagens aos educadores - e eles também sabem disso! Então, por que se registra um desinteresse tão significativo? Por onde andam a motivação e a vontade dos educadores? Quais incentivos poderiam ser usados? (Incremento no salário ou notas seriam uma ilusão. Aqueles que são motivados pelo dinheiro ou nota não estão disponíveis para o crescimento, e os que não têm vontade simplesmente empacam.)

Há uma maneira simples de motivar e alavancar a vontade de alguém: incentive-o. Mostre-se sensível às suas razões, mas não seja condescendente; não o veja como vítima ou coitado, mas aponte as saídas, as alternativas e os potenciais de que é portador e/ou pode desenvolver. Mostre-lhe que uma dificuldade não é um obstáculo intransponível, e sim uma forma diferente de descobrir como não cometer um erro, de fazê-lo pensar. E fazer pensar é, em minha opinião, a maior e mais digna tarefa de um educador. Pensem nisso e mãos à obra.

Ah! Só como um comentário esclarecedor: é claro que você que está lendo este texto já está “plugado” e mais motivado que outros. Então, aja como educador ou agente multiplicador (eu acho que querem dizer a mesma coisa) com seus colegas. Reflita e discuta com eles a respeito desse tema, que não pretende ser um manual de instruções, mas um tema para instigar o pensar.